Das Qualidades do Observador Parte I (de infinitas)

04:43 / Postado por Figgis / comentários (0)

Observar.

Quais são os defeitos e as qualidades do observador?

Observar dói. Observar dor.

Só o observador percebe o que te aflige, porque só o observador se importa. Mas mesmo que perceba o que está errado, ele não pode ajudar, pois o sacrifício do observador foi deixar de agir pra poder olhar... observar dói.

Deveria ter-me feito versado na arte do agir e não na arte do olhar. Talvez hoje eu não estivesse tão confuso, perdido e difundido no pesado e no afundado.

Confuso sobre o amor, ou mais que o amor, sobre o amar.

Como o observador ama? Ama aquilo que vê.

Ama a vida, os lampejos tão pequenos dos detalhes tão perdidos. Ama o velho, o vinho, o vaso e o vestido; o frágil, o ágil, as faces e o verborrágico.

Mas quando amar sem agir? Ou quanto amar sem interagir?

Observar é paradoxal, exige que o mundo gire, mas que gire o nosso mundo. Na falta de melhores descrições, o observador é um fleumático controlador, se é que isso existe, e se não existe, ainda assim este é o observador.

Mas voltando ao amar e ao amor, é errado que eu, na qualidade de observador, sinta tais coisas, que dependem de ações incontroláveis.

O amor não é o que eu vejo, logo, o desconheço.

Mas sinto que o sinto.

E dentro das qualidades desconhecidas do amor, sinto que te amei por um segundo.

Foi entre uma fala e um sorriso, e se foi entre uma sala e um cortiço.

Um só segundo de amor, um “quando” muito pequeno para um “quanto” muito intenso, e agora estou confuso.

Não sei se fui usado ou fui ousado em minhas qualidades de observador, acho que ambos.

Um lampejo tão pequeno de um detalhe tão perdido, sua fala e seu sorriso. Um estampido de amor, e só.

Te vejo por aí...

Demônios

04:20 / Postado por Figgis / comentários (0)

Meus demônios têm vontade

De amor a iniqüidade

Causar, cansar, caçar a humanidade


Meus demônios têm sentidos

Irão rasgar o teu vestido

Morder, marcar, matar tua libido


Meus demônios têm urgência

De devorar minha decência

Gerir, gerar, gozar na inocência


Meus demônios têm pressa

Pra sufocar o que se cessa

Arrancar, arder, acabar o que começa


Meus demônios têm sede

De ceder ao que prende

Sorver, socar, soprar o que se estende


Meus demônios têm fome

Estão gritando o meu nome

Urgir, uivar, urrar e depois some


Meus demônios têm vida

De tão real viram ferida

Ilustrar, incitar, irromper à investida


Vontade, sentidos, urgência...

Pressa, sede, fome...

Vida!

Meus demônios.

Sobre Vidas II

16:00 / Postado por Figgis / comentários (0)

Minha vida é mundo, mundo complacente a procura de mundos complacentes. Minha vida vai a longe mas não vai longe, divaga e vaga e vai...
Anda e desanda como gelo e fogo, sempre a procura de novas portas semi-cerradas.

Sobre Vidas

18:55 / Postado por Figgis / comentários (0)

A vida
Vai a fundo,
Aflora, afunda,
Funda e vai

Essa vida
Vem imunda,
Me invade, inunda,
Muda e vai

Esta vida
Clara e culta,
Escassa, escudo,
Casa e pai

Essa vida
Beat e Beattle
Bits, bebop,
Be bad, bye.

-----------------

Nesta vida
Nada é vivo,
Nada vivo,
Nado em paz

Naquela vida
Água viva,
Alma viva,
Furor voraz

----------------

Esta aqui, aqui está
Assim a é, é a missa
É omissa e submissa
Assim morrer, assim buscar

-----------------

Assim está, sem essa aqui.
Sem imundice, bebop ou vida.
Assim é esta e está aqui.

Esta é a vida que me vive.

Sem Sei

00:47 / Postado por Figgis / comentários (0)

Não sei se eu já sei se sei de tudo
Só sei que eu não sei o que é o amor
Só sei que não se ganha quando perde
E que doi sim essa desatinada dor
E se discordo de Pessoa e de pessoas
Já sei que já não sei nem mais quem sou.

Não sei se Toquinho estava certo
Não sei se Vinícius tinha razão
Só sei que não quero o teu toquinho assim tão perto
Não tenho nem um maldito violão...

Silêncio e Sangue

15:01 / Postado por Figgis / comentários (1)

E quando for e ser e vir,
Tem o barulho do silêncio.
Aquele som de sombra,
Maldito dom de prosa,
De quando foi, e fui... nem vi.

Mas quando for e crer e rir,
Daquela lua de solstício,
No dom da sua de resquício
Que é ímpia e é empáfia,
Grita o barulho do silêncio...

E quando for morrer em mim,
Aquele maldito barulho.
Som de sobras,
Da cor do silêncio,
A dor de abstênio,
É o absinto que já nem sinto.
E da nossa última santa ceia,
Fica o sabor do vinho tinto.

Quando dor, sofrer, mentir,
É o velho e habitual
Silêncio e sangue.

Delírios e Verdades

04:15 / Postado por Figgis / comentários (1)

Olha ali, lá vem ele de arma na mão.
Talvez não queira ser como seus pais. Talvez queira defender o seu país.
Olha, vê lá. De pasta preta caminhando em direção.
Em direção do que? Em direção ao nada.
Comprou seu novo nada zerinho e agora é forte e veloz.
O bombeiro engole o medo e finge que tá tudo bem.
O piloto tá com sono e triste porque não tem ninguem.
Seus estados são Status Quo.
Fingimos sempre ser alguem.

Somos todos almas indecisas,
Voando com asas imperfeitas.
Do espelho, imagens distorcidas.
Das imagens, espelhos com defeito.
Somos apenas crianças brincando de ser adultos...

O certo e o errado parecem coisas certas.
É uma estrada onde ninguém dá seta.
Vamos brincar de donos da verdade,
Vamos brincar que temos então certeza.

O psicólogo ainda tem dúvidas de quem é.
O professor respira fundo ao ver,
Aqueles jovens pensando em ser pessoas,
E pensando que pessoa também queria ser.

Veterinários, astrônomos, astronautas, autônomos.
Seus estados são Status Quo.
Suas verdades com validades embutidas.
São todos adolescentes com suas dúvidas infantis.
Tudo bem ali, em um mundo perto do seu...

Somos apenas crianças brincando de ser adultos...
Você me abraça?

Dia dos Namorados

00:28 / Postado por Figgis / comentários (1)

É meio-dia, caminho pelo parque.
Sorvete de casquinha... sorvete de creme, que delícia. Carrego dois.
Ali está ela, sentada no banco, pernas cruzadas, brincando com o cabelo, vestido laranja, leve.
Amo o jeito que você brinca com o cabelo, amo suas pernas e o jeito como seu cabelo se move com o vento... amo esse vestido que você está usando! Te amo leve... Ela pegou o sorvete... porque me olha assim?
Sentei enquanto ela levantava, me calei enquanto ela falava. O que houve? Respiro...

-Você é uma pessoa maravilhosa e eu te amo, mas... mas...

Mas tem mais, fecho meus olhos e sinto o vento. Ele me toca assim como a toca. Um vento bom me deixa feliz...

-Somos tão novos, temos nossa vida pela frente. O problema não é você, é que eu não quero a pressão de estar junto com alguem pelo resto da minha vida...

Recostei a cabeça contra o banco, o corpo arqueado para trás.Eu nunca disse que nosso amor era eterno. Eu nunca disse a ela a pressão que tive que suportar da minha família, dos meus amigos que me diziam como ela era...Meus olhos ainda estão fechados, mas a luz do Sol ultrapassa minhas pálpebras.
Eu nunca cobrei nada dela...

-Eu sei que você não me cobra nada, mas eu já não me sinto especial do seu lado, você nem liga mais pra mim.

Eu amo esse tom de voz quando ela fica brava... Respiro:

Nós dois deitados na cama durante a madrugada. Ela alisa meu cabelo, brinca de enrolar e curtimos o silêncio juntos. Viro e beijo sua perna, suas coxas lisas na parte onde a camisola não cobre.

Inspiro.

-Antes eu costumava me sentir segura do seu lado, mas agora tem sempre um problema novo!

Respiro:

Eu falhei, fui reprovado no vestibular. Está chovendo fino e curvado. Uma chuva repentina que me acerta nas costas e realça o que eu estava sentindo. Lá estava ela, sorrindo do outro lado da rua, o cabelo molhado colava no rosto e nos seios, saia levemente esvoaçante.Afundei minha cabeça tão fundo em seu ombro que achei que tocaria seu coração com a ponta do meu nariz. Soluçava um pedido de desculpas, nem queria pensar em quando seria quando chegasse em casa.Mas seus braços, aqueles braços... me envolveram e a ponta da mão direita chegava a tocar o lado esquerdo da minha cabeça. Ela arranhou de leve minha pele com o pedaço da unha que me alcançava e me deu um beijo molhado de chuva que me acertou o ombro e a nuca.Eu fugi do mundo e me escondi nela, e vi minha última máscara cair. Mostrei minha fraqueza e um beijo de ombro e nuca me deixou pleno e forte.

Inspiro.

-Você tá escutando o que eu tô falando? Eu não quero mais você! Eu não ligo mais pra você!

Respiro:

O nosso primeiro beijo, embaixo da macieira. O engolir seco enquanto o telefone chamava no dia seguinte. Ajoelhado em frente a ela no banco da praia, quinze dias depois. A expressão que ela fez, rindo e chorando, quando eu disse a ela que a amava. A noite chuvosa que ela disse que me amava, um mês depois. Ela brincando com o cabelo em uma tarde que eu já não lembro qual era. Seus olhos ternos olhando pra mim enquanto nos amávamos.

Inspiro. Abro os olhos. Cadê meu sorvete? Deixei cair, não consigo ver direito, minha visão úmida está embaçada. Que papel de bobo eu estou fazendo na frente dela! Ela me olha com raiva e deixa uma gota escorrer de seus olhos.

Cabisbaixo, respiro:

No hospital, eu segurando sua mão enquanto ela passava a mão no rosto de seu pai antes de sairmos de lá. Eu passo a unha que está para cortar na mão dela e ela se vira, tentando ser forte ao sair dalí quase cambaleante. Eu a abraço e beijo seu ombro-nuca. Caminhamos juntos na mesma direção. Seus olhos claros por causa do choro.

Inspiro. Seus olhos claros por causa do choro.

-Só não diga nada! Não diga que me ama! Me deixe ir, tá bom?

Vontade de gritar. Respiro:

O dia que lhe dei o vestido laranja. Ela puxa a alça da camisola e deixa cair ao chão, se trocando na minha frente com um sorriso juvenil. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Nossos lábios. Lembrei que dia ela mexia nos cabelos daquele jeito, foi na primeira vez que nos vimos. Seus lábios.... seus olhos.. suas pernas... sua leveza... Seus lábios!

-Eu te amo!
-Eu te amo!!!
-EU TE AMO!!!!!

É meio-dia e quinze. De costas, longe... sumindo.Enquanto vejo seu cabelo ondulando rebolado, dançando a cada passo, percebo o que nunca percebi...

JOGOS DE AMOR SÃO PARA SER JOGADOS.

Eu te amo.... respiro...

Mensagem Fúnebre Para o Corpo e a Alma

03:01 / Postado por Figgis / comentários (0)

Que cansaço!
Sinto-me cansado de estar cansado, sento-me.
Senta o cinto, um crivo em um cravo enquanto me calo escravo
Cravo as crases nas frases que me fazem escoar os abraços
Escoo, escorrido, escorregado... sinto, me sinto... me soo, me sou escravizado
O corpo encorpora a carreta e em careta me encoraja a ser desencorajado
Me comparo... paro
O tédio que é remédio, mais que médio, é mediano
Me adianto...
Naufrago dentro do meu corpo necrofágico
Verborrágica ascensão, náufrago em um trago
Quero o melhor trago do teu pior veneno
Pois trago um trago da minha poção trágica
Me faz pensar em não pensar
Me faz agir em indigestas faltas de gesto
Me faço... fácil... falso
Estou com tédio do médio
Estou cansado...

A Vida e o Desenho

02:56 / Postado por Figgis / comentários (0)

Olho ao redor e vejo uma festa, pessoas ali paradas, inertes em sorrisos e desejos. Olho melhor e me vejo ali no meio.
Vejo um precipício enorme se formando entre meu corpo e minha alma, será que é assim que as coisas são?
Acho que nunca me senti tão sozinho, tão na escuridão. Solidão que sorri por mim, que estrangula sensos, sentidos e sentimentos.
Solidão tão forte que as vezes desejo que as paredes tenham ouvidos... solidão tão grande que até as vozes na minha cabeça não me respondem mais.

Queria que a vida fosse rabiscos em um livro infantil.
Tão sem maldade, tão sem malícia.
Árvores com buracos e sorrisos inocentes.
O Sol tão próximo das nossas cabeças.
Tão simples, tão claro... Toda a vida em um fundo branco.
Não se desenha o escuro em um desenho de criança...

Claustrofobia

02:52 / Postado por Figgis / comentários (0)

Claustrofobia catatônica,
Prende meu corpo e tira meu ar
Gaiolas com cortinas
Monstros no ármario
Claustrofobia agorafóbica
Correntes na mente
Demônios na gente
Demônio nas gentes
Céu azul marinho
Mar azul celeste
Nada me importa
Nada me quer, não quero nada
Claustrofobia programada
Limitações ilimitadas
Irritações imitadas
Prisão a céu aberto
É força da fraqueza
Fortaleza
Patrimônios fraticidas
Sem dentro ou fora
Agora, clausura
Fobia.

Eu Te Amo

02:48 / Postado por Figgis / comentários (0)

Quem que te ensinou a ser tão linda assim?
Te fez perfeita e te mostrou pra mim
Me deu teu gosto e fez-te discordar

Quem agora pode me dizer cadê
Toda a certeza que eu tinha de viver
Sentir, chorar, mas no final vencer.

Agora, quero trazer de volta teus abraços
Sentir no olhar o teu maldoso laço
Jogar contigo e te deixar vencer.

Sei que o final só foi triste pra mim
Que terei mais colombinas, você Arlequins
Mas achei que o nosso carnaval não mais teria fim

Vai, como se vai tudo na vida
Deixa lembranças e um copo de bebida
No jogo do amor eu te deixei vencer...

Das Coisas Que Achei Enquanto Perdia

02:06 / Postado por Figgis / comentários (0)

Perdi ao me perder entre perdidos e pedidos.
Precisos em premissas e promessas pertinentes.
O que perdi ao me perder?
Pessoas e pedaços.
A palhoça e o palhaço.
Me fiz perder, me impedi...
Perdi perdões, perdão.
Perdi o rumo, o ramo e os ramalhetes.
Perdi ramais, ruas e risos.
Perdi quem me achava,
Perdi a mim que me achava...
Me perdi em pedreiras e pedestais.
Só ao me perder perdi tudo,
E só assim achei o que acho que importa.
Achei a mim achatado,
Mais chato, menos chato...
Me perdi em partes e me achei inteiro.
Acho que achei uma coisa que perdi enquanto perdia,
Você...

Ora em Hora

10:58 / Postado por Figgis / comentários (1)

Você se foi do meu coração e deixou a bagagem
Acho que era hora
Oras, essa hora varia de hora em hora...

Não aguentei o peso de nós dois
Prefiro o peso familiar da solidão
Ora em hora pra ter sido a hora certa.

Você é esquisita e sua esquisitice é que me punha em pé
Mas com você são dois mundos nas minhas costas
E com isso são dois leões a me matar por hora.

Meus lençóis eram seus, e o seu vivia em nós
Agora o seu e o meu é tudo um nó que se desata
Amarra enquanto desaba.

Mas não posso esquecer, o fim veio da tua boca
O fim veio da falta da tua boca
E é fim, é fim, é fim!

Ora em hora para que o fim dure ou para que o fim fure
Ora em hora enquanto pode considerar
Ora em hora de almoço que a janta vem com sobremesas diferentes.

Morte Cotidiana

12:39 / Postado por Figgis / comentários (0)

O tempo estreita
A dor espreita
A mente deita
O corpo aceita
E assim a morte é feita
E assim a vida é feita

A vida estreita
A morte espreita
O corpo deita
A mente aceita
E assim a dor é feita
E assim o tempo faz desfeita.

De Passagem

02:47 / Postado por Figgis / comentários (0)

Subindo no ar formando teias de fumaça, assim mantêm-se a chama do meu cigarro, dançando pelo meio da sala e subindo aos céus, juntando-se às nuvens cinzas como a cidade que me rodeia.
Cidade cinza... cinzas do cigarro.
Tudo uno, unido... fortificado.
Uma tragada de morte mar adentro, a viva chama do cigaro quase queima os meus olhos.
Assim como a cidade cinza em cinzas, assim como o cigarro que se esvai em soberba fumaça dançando solamente, eu me vou, vivendo no espaço, em cinzas e em chamas...

Lágrimas por Medo

16:07 / Postado por Figgis / comentários (1)

De todos os sentidos sentidos,
O que eu mais sinto falta
São das práticas práticas de linguagem da tua língua
Os braços entre braços dos abraços
Dos teu braços,
Dos teus laços,
Dos teus casos...

O cheiro da lua no seu cabelo
Pele de seda
Sede de pele
Aroma de lua que mingua aos poucos.

O segundo sol é forte,
Os filmes me jogam na cara o que eu não tenho mais.
Me sinto meio engraçado, me sinto meio triste.
Sou absoluta contradição.
Contradiga-me...

Sinto falta do teu olhar de olhar nos olhos.
Olhar seus olhos enquanto nos olham.

Simples é tudo aquilo que não sai da nossa imaginação,
É simples puro e sem sentido,
Sinto saudades de algo que não faz falta.
Sinto sua falta porque está longe,
É puramente simples: sinto.

Suas práticas práticas de linguagem...

Das Batalhas Que Não Lutei

05:57 / Postado por Figgis / comentários (0)

Épica seria a batalha que deixer de lutar.
serei eu eterno antagonista de minhas próprias ações?
Dom Quixote de anseios frustados no pico de uma montanha solitária.
Lanças e espadas virtuais
,Enfrentando meus moinhos de vento que teimam em disfarçar-se de demônios.
Ou seriam os demônios que se disfarçam de moinhos?
Milhares de milhares de milhares de anos por dia em lutas vãs
Vastas e vasculares, triglicerais e unidimensionais.
Paus e pedras quebraram meus ossos como eu sabia que fariam
Mas da onde veio a arma que destruiu minha alma?
Por essa eu não esperava.
Espero que quando eu acabar comigo ainda não esteja acabado para lutar...
As batalhas que devia ter lutado,As batalhas que deixei de lutar...
Se Deus criou a nós a sua imagem e semelhança
E vive boa parte do livro de ação lutando com seu demônio
Talvez tambem tenhamos o direito...
Aquela que flutua a minha volta e me carrega a lugares escuros
É demônio de nova era, com novas asas e recursos.
São Diabos que já vem com advogados e jurisdição.
Do fim da batalha à batalha sem fim...

Ciclos e Lembranças

00:56 / Postado por Figgis / comentários (0)

Terminou como começou, com centenas de cores sinestésicas explodindo em fogos, regojizo de um ano bom.
Eu provavelmente deveria escrever isso há alguns dias atrás, antes desse ciclo anual se encerrar, seria um texto de fim de ano. Mas não, só agora, dia... (pausa para ver que dia é hoje), cinco de janeiro o ano se encerrou para mim, só agora esse ciclo se encerrou.
Ciclo... palavra engraçada para descrever um ano não é mesmo? Mas no final, foi isso, um grande ciclo que encerrou doze ciclos que encerrara trinta ciclos. Ciclos...
O que foi esse ano que passou? Para definir muito em muito pouco, diria que foi um grande maremoto disfarçado de marola. Teve aquilo e aquilo outro, teve aquilo lá também e mais aquilo que aconteceu aquele dia... um emaranhado de pequenos detalhes.
Sei que a Terra girou, porque estava no mesmo lugar com as mesmas pessoas. Mas não era mais o mesmo, e não éramos mais os mesmos.
Acho que isso é a definição do ciclo, do círculo, algo que começa e termina no mesmo lugar, embora tenha viajado tanto.
Lembra quando eu fiz aquilo e eles me olharam daquele jeito? E eu tive que fazer aquilo?
Ou quando eu tomei aquilo, me senti daquele jeito, e acabei fazendo aquela coisa que me levou até aquilo? Pois é...
Tudo aquilo...
Larguei aquilo, conheci aqueles e aquelas, e quase sempre não era tudo isso.
Eu passei o ano inteiro caminhando sem rumo, sem meta e tem gente que acha que por isso eu não saí do lugar. Eu podia não saber para onde estava indo, mas acreditem, eu cheguei muito mais longe do que muita gente que percorria o próprio rabo.
Mas a esperança renasce nos fogos, e o ano inteiro explode com ele.
Fogos brancos com cheiro de maresia, fogos vermelhos com som de euforia, fogos amarelos com gosto de derrota e fogos beges como a areia que cobre meus pés descalços... o ano se explodiu.
E foi isso, ou melhor, foi aquilo. Eu não sei ainda, passado tristeza e felicidade, verei qual dos dois se dissolve, e qual resume o ciclo.


Para encerrar queria colocar as únicas coisas que levei desse ano que passou, se espaçou e sumiu. As únicas coisas...

Aquele dia de manhã, alguns dias antes de sair de São Paulo. Era sábado mas parecia domingo. Com os pés descalços eu tocava o chão coberto de farelos. Aquelas partículas de pão, embora devessem me deixar incomodado, dançavam pela sola dos meu pés, me faziam cócegas juvenis e inocentes e se dissolviam como pequenos grãos de açúcar quando eu andava no chão gelado da cozinha. Naquele momento não tive preocupações, e eu ouvia “Por Enquanto – Legião Urbana” na minha mente. O Sol iluminava uma pequena parte do chão e eu sentia aquele cheiro que infelizmente não me lembro mais como era. Mas vivo e viverei por momentos como aquele. Me senti calmo, em paz, pela primeira vez na minha vida, e só eu posso entender o que isso significa.

Essa segunda situação que não me esqueço tem até hora marcada, mas já não me lembro que dia foi. Era apenas um dia trivial, e se me lembro as horas é porque por um certo tempo esperei o ônibus todos os dias nesse horário, seis e meia da tarde, para ir ao curso preparatório. Enfim, o ponto fica em frente ao jardim da praia de Santos. Passado o jardim, vinha a avenida, o calçadão, a orla e, por último, o manto de águas e paisagens. É engraçado como não prestamos atenção naquilo que nos rodeia diariamente, mas nesse dia me bateu como um estalo aquela miragem, aquele quadro vivo. De repente ficou tudo diferente, como um deja-vu nuca visto, como uma paulada súbita na retina que enquadra tudo fora de quadro. Acho que durou um milésimo de segundos antes do ônibus parar e eu entrar. Um milésimo de segundo também é um ciclo, e nesse ciclo aprendi algo que faculdade nenhuma ia me ensinar.

A terceira coisa que vou levar aconteceu mais de uma vez, mas foi essa em específico que me fez entender o que eu gosto na interação humana. Ele estava sentado no sofá dedilhando o violão. No outro sofá, deitado, o outro tirava um cochilo depois de passar o dia no trabalho, e no chão, ao lado da porta, o terceiro lia um livro técnico e mexia os dedos dos pés de acordo com o som que emanava do seu MP4. Eu por minha vez estava com os fones de ouvido, ouvindo algo no computador comunitário e parei a observar a cena sem que ninguém me notasse. Não tinham visitantes e moradores, hóspedes ou anfitriões. Não tinham amigos ou inimigos, apenas quatro pessoas em um mesmo lugar vivendo suas vidas. Eu realmente amo a individualidade coletiva.


Existem mais algumas coisas que não quero colocar no papel mas espero que fiquem comigo para sempre, juntas das várias outras trivialidades que aconteceram em outros anos, e espero que não sejam apagadas pelas que vêm por aí. Mas apenas como citação, algumas delas:


A imagem das árvores vista de cima da laje. Um abraço sincero naquela menina que eu tinha acabado de conhecer no meio do show, quando eu fui embora com a certeza de nunca mais nos vermos. Aquela maldita risada cínica do meu amigo. A vista do deck dos pescadores em uma noite chuvosa. Aquela carona (é impressionante como a cidade de Santos fica bonita a noite acompanhada de comentários inteligentes e verbologia cinematográfica).E mais aquilos e aqueles...


Enfim... ciclos.