Dia dos Namorados

00:28 / Postado por Figgis /

É meio-dia, caminho pelo parque.
Sorvete de casquinha... sorvete de creme, que delícia. Carrego dois.
Ali está ela, sentada no banco, pernas cruzadas, brincando com o cabelo, vestido laranja, leve.
Amo o jeito que você brinca com o cabelo, amo suas pernas e o jeito como seu cabelo se move com o vento... amo esse vestido que você está usando! Te amo leve... Ela pegou o sorvete... porque me olha assim?
Sentei enquanto ela levantava, me calei enquanto ela falava. O que houve? Respiro...

-Você é uma pessoa maravilhosa e eu te amo, mas... mas...

Mas tem mais, fecho meus olhos e sinto o vento. Ele me toca assim como a toca. Um vento bom me deixa feliz...

-Somos tão novos, temos nossa vida pela frente. O problema não é você, é que eu não quero a pressão de estar junto com alguem pelo resto da minha vida...

Recostei a cabeça contra o banco, o corpo arqueado para trás.Eu nunca disse que nosso amor era eterno. Eu nunca disse a ela a pressão que tive que suportar da minha família, dos meus amigos que me diziam como ela era...Meus olhos ainda estão fechados, mas a luz do Sol ultrapassa minhas pálpebras.
Eu nunca cobrei nada dela...

-Eu sei que você não me cobra nada, mas eu já não me sinto especial do seu lado, você nem liga mais pra mim.

Eu amo esse tom de voz quando ela fica brava... Respiro:

Nós dois deitados na cama durante a madrugada. Ela alisa meu cabelo, brinca de enrolar e curtimos o silêncio juntos. Viro e beijo sua perna, suas coxas lisas na parte onde a camisola não cobre.

Inspiro.

-Antes eu costumava me sentir segura do seu lado, mas agora tem sempre um problema novo!

Respiro:

Eu falhei, fui reprovado no vestibular. Está chovendo fino e curvado. Uma chuva repentina que me acerta nas costas e realça o que eu estava sentindo. Lá estava ela, sorrindo do outro lado da rua, o cabelo molhado colava no rosto e nos seios, saia levemente esvoaçante.Afundei minha cabeça tão fundo em seu ombro que achei que tocaria seu coração com a ponta do meu nariz. Soluçava um pedido de desculpas, nem queria pensar em quando seria quando chegasse em casa.Mas seus braços, aqueles braços... me envolveram e a ponta da mão direita chegava a tocar o lado esquerdo da minha cabeça. Ela arranhou de leve minha pele com o pedaço da unha que me alcançava e me deu um beijo molhado de chuva que me acertou o ombro e a nuca.Eu fugi do mundo e me escondi nela, e vi minha última máscara cair. Mostrei minha fraqueza e um beijo de ombro e nuca me deixou pleno e forte.

Inspiro.

-Você tá escutando o que eu tô falando? Eu não quero mais você! Eu não ligo mais pra você!

Respiro:

O nosso primeiro beijo, embaixo da macieira. O engolir seco enquanto o telefone chamava no dia seguinte. Ajoelhado em frente a ela no banco da praia, quinze dias depois. A expressão que ela fez, rindo e chorando, quando eu disse a ela que a amava. A noite chuvosa que ela disse que me amava, um mês depois. Ela brincando com o cabelo em uma tarde que eu já não lembro qual era. Seus olhos ternos olhando pra mim enquanto nos amávamos.

Inspiro. Abro os olhos. Cadê meu sorvete? Deixei cair, não consigo ver direito, minha visão úmida está embaçada. Que papel de bobo eu estou fazendo na frente dela! Ela me olha com raiva e deixa uma gota escorrer de seus olhos.

Cabisbaixo, respiro:

No hospital, eu segurando sua mão enquanto ela passava a mão no rosto de seu pai antes de sairmos de lá. Eu passo a unha que está para cortar na mão dela e ela se vira, tentando ser forte ao sair dalí quase cambaleante. Eu a abraço e beijo seu ombro-nuca. Caminhamos juntos na mesma direção. Seus olhos claros por causa do choro.

Inspiro. Seus olhos claros por causa do choro.

-Só não diga nada! Não diga que me ama! Me deixe ir, tá bom?

Vontade de gritar. Respiro:

O dia que lhe dei o vestido laranja. Ela puxa a alça da camisola e deixa cair ao chão, se trocando na minha frente com um sorriso juvenil. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Nossos lábios. Lembrei que dia ela mexia nos cabelos daquele jeito, foi na primeira vez que nos vimos. Seus lábios.... seus olhos.. suas pernas... sua leveza... Seus lábios!

-Eu te amo!
-Eu te amo!!!
-EU TE AMO!!!!!

É meio-dia e quinze. De costas, longe... sumindo.Enquanto vejo seu cabelo ondulando rebolado, dançando a cada passo, percebo o que nunca percebi...

JOGOS DE AMOR SÃO PARA SER JOGADOS.

Eu te amo.... respiro...

1 comentários:

Dee Dee on sábado, junho 13, 2009

AMEI o texto. Gostei da narrativa rica em detalhes tanto na descrição do espaço como a descrição sensorial.
Enfim,eu gosto de ler e não tenho talento para escrever!rs. Ñ saberia dizer de forma mais clara ou técnica as coisas q amei no texto.
Uma excelente narrativa. AMEI!:D

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