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Serei sombra sobrada de um Sol sem som?
Um sobrado sombrio de um ser sóbrio sofrido?
Serei sombra? Serei sóbrio?

Serei só se ser sobra?
É que às vezes o ser sobra.
Só, sobra a sombra do ser-sobra.

Serei sentido sentado de um sorriso solado?
Sombra sem Sol, um sem-sentido sensato?
Sentir sem ter, sentar. Serei sorriso ou solado?

Um ser que sente ou que senta?
Ser separado? Serei ser parado?
Serei ser ou serei sobra?

Serei sombra...

Pagliaccio

13:58 / Postado por Figgis / comentários (0)

Nessa noite só os malditos cantam. Esta é a noite em que cantam os malditos...

-Me lembro daquele musical antigo... aquele do Gene Kelly, famoso, como era mesmo o nome?

-Cantando na Chuva.

-Isso, Cantando na Chuva, isso. É que eu não estava lembrando da cena da chuva. Me lembro de uma cena com Donald O’Connor, aquele velho com cara de criança. Era uma música que dizia que devíamos fazer rir.

-Ninguém está rindo aqui...

-Exatamente. Ninguém está rindo! Sempre achei que aquela música tinha um tom irônico, sabe... ela dizia para fazer os outros rirem, mas sempre achei o Donald O’Connor meio tristonho. Acho que ele é como eu, uma alma perdida dentro de seu personagem. Donald era um palhaço, uma caricatura do homem, que tinha como função fazer os outros rirem, porém tinha aqueles olhos tristes... entende o que eu quero dizer?

-Desculpe... não entendo... porque está me prendendo aqui? Isso era pra ser alguma piada?

-Não, droga. Você perdeu o sentido! O único motivo de você estar aqui é porque eu cansei de contar a piada... cansei de refletir essa maldita sociedade! Ela perdeu a graça pra mim. Você perdeu a graça pra mim...

-Eu... eu... desculpa.

-Você me disse que já viu tudo. Já viveu tudo. Mas você já viu o Mal? O mal como um fim e não como um meio. Sabe, eu já estive por aí... eu já caminhei por essa maldita cidade, visitei cada esgoto e cada bueiro e senti o cheiro da merda que você finge que conhece. Eu sou o fim da piada que ninguém ri, sou o sorriso contido da mulher infiel. Eu sou a lágrima que escorre do olho do palhaço quando as cortinas se fecham!

-Pare, eu não sei o que quer que eu faça...

-Quero que olhe pra mim. Quero que olhe bem no fundo dos meus olhos! Você fala da dor com propriedade. Fala do ódio com o dom da tristeza que não te pertence. Fala das nuvens pretas no seu arco-íris colorido. Vou te dar um pouco da dor e do ódio. Quero vomitar no seu arco-íris!

-Não! Por favor! Pare!!!

-Tenho um segredo pra te contar, pequeno botão-de-rosa: Eu caminhei pelos vales da sombra da morte, e adivinha! Não tinha ninguém lá!

...

-Pra quem se odeia tanto, você pareceu se amar demais. Posso agora voltar ao meu personagem e manter minha tristeza dentro dos meus olhos. Ridi, pagliaccio, ridi...

Estrangeiro

13:56 / Postado por Figgis / comentários (0)

Aqui tudo acontece! Chegamos ao ponto em que tudo acontece, baby.
Aqui as flores voam, os pássaros sussurram, as sirenes abusam e os semáforos ricocheteiam. Aqui tudo acontece baby.
Cidade estranha, sinais estranhos, aqui é tudo, tudo, tudo... tudo acontece.
Vivemos de amores estáticos, valores estrábicos, sentidos retornáveis, amigos recicláveis. Estamos lentos demais para esta cidade... corre, corre, corre.
Corre, baby!

Agora tudo apodrece. É, é! Tudo! Tudo apodrece!
Já não voamos mais, cadê os pássaros, ouço passos! Sussurros, sirenes, semáforos!
Tudo apodrece, baby... perde o sentido.
Amores fleumáticos... amores reumáticos...
Cidade maldita, tu engole ou gospe, maldita?
Morre, baby!

Aqui, agora. Aqui, agora...
Das flores e os pássaros às sirenes e os semáforos.
Valores sintáticos.
Baby, baby, baby.
Tu és esta maldita cidade estranha.
Tudo é esta estranha cidade maldita.

Sorriso, Nada Mais

13:54 / Postado por Figgis / comentários (0)

Sorria, sorria... isso, eu sei que você consegue.
Continue sorrindo, olhe a sua volta, isso, olhe em volta e sorria.
Vamos lá... um sorriso... assim, assim... um sorriso e nada mais.
Nada, mas um sorriso, mais um sorriso, um sorriso-nada.
Sorria, é isso aí.
Eu sei que você consegue sorrir esse seu sorriso-nada.