Prólogo

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“Me enterre quando eu for? Me ensine enquanto eu estiver aqui?
Quando chegar a hora de pertencer, será a hora que eu desaparecerei (...)”
James Hetfield / Lars Ulrich


São três horas da manhã. Deitado em uma planície, em alguma parte do mundo, um homem observa as estrelas. Olha para o negro céu pontilhado de amarelo enquanto uma leve brisa acaricia seu corpo.
Este homem passou sua vida inteira tentando compreender o sentido da vida, o sentido de estar ali naquele momento e naquele lugar. O que será que o levou até ali? No percurso de sua vida, tomou várias decisões, escolheu vários caminhos que considerou melhor e essa jornada o levou a ser o homem que era.
Mas será que ele teria como escolher outro percurso? Ou como em um programa de computador, uma equação matemática, todas as decisões que tomou eram apenas as somas de fatores genéticos combinados com as condições que a vida lhe impôs?
Ele encontrou várias perguntas sem resposta em seu caminho, para algumas conseguiu achar respostas satisfatórias. Para outras, ele acreditava que com o tempo as encontraria, e para tantas outras as respostas que achou pelo caminho, com o decorrer do tempo, percebeu que não eram tão corretas como ele imaginava, e então teve a humildade de abandona-las e recomeçar do princípio.
Algumas vezes, encontrou-se em situações difíceis e precisou enfrentar seus inimigos. Em outras ocasiões, ele foi inimigo de si mesmo, e em algumas batalhas venceu, em outras perdeu.
No fim das contas, ele só tinha uma certeza, assim como ele nasceu um dia e vivia aquele momento, ia chegar a hora em que tudo aquilo ia cessar, e tivesse ou não as respostas, ele iria morrer, e embora não soubesse quando ou como isso ia acontecer, ele sabia que tudo tinha um começo, um meio e um fim.
O dia já ia clareando e então nosso amigo resolveu voltar para casa, se levantou mesmo sem ter encontrado o sentido da vida e caminhou na direção do horizonte. Momentos depois, sem nem ao menos perceber, caiu ajoelhado sobre a grama rasa, e sentindo seu coração parar aos poucos, a falta de oxigênio e a circulação de sangue cessando lentamente, pode perceber que sua hora tinha chegado. O homem morreu ali, sem conhecer as respostas para suas dúvidas, sem saber o que aconteceria a seguir, sem nem ao menos saber que aquele era seu momento. Ele morreu.
Tudo tem um começo meio e fim, não nos damos conta quando tudo começa, seguimos nossos caminhos durante o meio, e sem que nos percebamos, chega nosso fim. Esse é o destino de todos os homens. Um dia morreremos como morreu o homem da planície.
Não apenas como pessoas, mas como a civilização em geral, podemos ter certeza de uma coisa, assim como nascemos e morremos, alguém antes de nós já esteve aqui, e alguem depois de nós ocupará nosso lugar.
E é exatamente sobre isso que nossa história tratará. E é exatamente isso que Daniel vai descobrir bem antes do que ele imagina...

Quem Tem Medo do Escuro?

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Em meio a tarde quente me encontrei nas trevas e pela primeira vez tive medo do escuro. Senti o escuro e nada a minha volta era paupável. Tudo se perdera em questão de segundos, em uma tarde fria e fria.... fria e fria era tudo escuro.
Quem tem medo do escuro? Os medos de infância são piores quando somos adultos, somos culpados por ter medo e por sermos infantis.... somos culpados de tudo.
Da minha infância foi-se a inocência, sobrou os medos, quando tudo estava apagado eu me senti desamparado e só contava comigo mesmo.... queria poder contar com alguém mais confiável...
Eu tenho medo do escuro, você já se sentiu no escuro? É horrível se sentir..... é horrível se sentir... no escuro perdemos um sentido e aguçamos os outros, e numa vida sem inocência, sentir por si só já é horrível... sentir-se só é horrível... e sentir-se é horrível.
No meio de uma tarde fria e fria as sombras tomaram contornos e os ruídos se tornaram ameaças. No escuro metafórico estive eufórico e me vi sozinho com a minha consciência.... essa sim me assusta.
Meus medos infantis se revelaram tão reais que tenho medo de pensar.... o medo do escuro de uma criança num quarto se transformou no medo do escuro de um homem perdido, o medo da altura de um menino que chorava do topo do desfiladeiro se moldou e hoje não sei se devo pular.... o medo de fantasmas, esses sim continuaram intactos, eles vivem mortos bem perto de mim, bem dentro de mim.... vivem mortos na minha consciencia, essa sim me assusta.A tarde vai caindo, ainda está frio, e ela ainda é fria, quando virar noite, virá a noite e tornará tudo mais escuro? Espero que não, quero uma brecha na porta, uma luz que me console, quero me sentir bem nem que seja da luz que vem lá de fora, lá de longe..... por favor, luz, não se apague....Quando eu era pequeno não tinha medo do monstro do armário, hoje meu armário se encontra tão cheio de esqueletos que já não tenho dúvidas, eles virão atrás de mim! Mas quando era pequeno tinha inocência, mas já não sou inocente, provei o contrário, e tenho o maior medo que um adulto pode ter.... responder pelos meus atos.... quem dera nessa hora voltasse a ser criança...
Quem tem medo do escuro? Quando todas as luzes se apagarem, o que vai restar é o que você é. E não gosto de ficar sozinho comigo..... tenho medo de monstros...

Palavras Desconexas

00:26 / Postado por Figgis / comentários (0)

No meio das sombras noturnas de um passado pueril encontrei uma sombra viva em um estado febril. Estado de consciência inconsciente da beleza, tristeza e de toda a morbidez exacerbada. Hoje é dia, é noite, é tudo escuro. Tudo flui da sombra do cigarro, da luz da chama acesa... Frio da noite é um conceito interessante, palavras incoesas e sentimentos inconstantes.
Jogue a força pela janela e concentre-se na luz que vem de fora, pra que nada dentro gere tanta confusão mas gera tanta solução de um sentimento estriado.
Ontem eu via uma sombra que se transformou em híbridos gritos de melancolia despercebida. Toda a consistência de algo indelével se joga contra você quando tenta lutar...
Hoje é um novo dia, e de hojes e ontens se faz o amanhã. Se amanhã vai fazer Sol ou vai chover, não sei. Que a Lua me indique mais um caminho para percorrer. Em cima de uma moto, com o vento no rosto.... todas as pessoas passam rápido... em cima de uma moto todas as pesoas passam rápido.
Mais que demais é tudo que temos e se nem hoje nem amanhã poderemos ter, que tenhamos o ontem, brindemos a sabedoria dos loucos e pulemos grades em direção ao manicômio, morada final.
Risos soltos na frigidez de um intante se dissipa como a sombra do meu cigarro, e a chama que continua acesa chama a chama que continua acesa, chame a sexta chama e não veja forma em fundos. Intenção é viver, extensão é te ver, de ver, de ter e te ter pra que? Vai saber...
Loucura é só um modo de se ver, e tristeza é só um conceito relativo. E que todas as dores me tragam novas fortalezas e abandonem os navios das esperanças, a luz que brilha no horizonte não mais te olha e nem sorri. Tudo é cinza e sombra, todas as tonalidades refletidas em galões de percepção te enganam e me sofrem, e me sofrem um ataque cardíaco do veneno do cigarro e da chama acesa.
Ascende os olhos ao benigno e transcende a intensão de votos. E que rápido siga uma vontade incoersiva de viver grunhindo as maravilhas do subnível. Gente que é gente nunca perde a podridão, que a beleza jorra de fundos falsos transforme sua beleza em alma e crie palavras desconexas... palavras desconexas.... fundos falsos, forma e fundo sem razão para viver, a sombra de um cigarro aceso, palavras desconexas.

Linhas Tortas/Não Ter

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(Esses dois textos que coloco nessa postagem não foram escritos por mim, e sim por um grande amigo, Renato, que vem aprendendo com o tempo a exorcizar seus demônios através das palavras, e assim fazendo tem criado belos manuscritos, como os dois que coloco aqui, um abraço Renato.)


Linhas Tortas


Se por um acaso escrevo em linhas tortas, é porque a reta não mais me interessa, seguir reto seria o caminho mais medíocre do qual, pessoas mais certas apenas sentem o dispensável prazer de ser dispensado.
Amar leva a pessoa à loucura, tentar apenas um sentimento da distância, de alguém que faz seu coração suspirar por um beijo na testa, demonstrando respeito, um beijo no rosto dizendo: nossa amizade é eterna, um selinho demonstrando paixão, e finalmente o ardente beijo em chamas, demonstrando um mar de rosas, O DESEJO.
Sentir é saber que estamos vivos, mais a vida nos mostra que infelicidade faz a maior parte de nossas vidas, nos provando que somos seres humanos e que temos coração, é a maior prova de nossa existência, só ainda não me provaram que estou vivo por uma boa causa.
Sentir o coração bater. Ah o coração! É quase dizer que ama a si próprio, é sentir o calor do próprio corpo, é suspirar, é ser feliz, ou estar perto de alguém, a quem tem um forte desejo de relação, não importa a qual. O coração com fortes batidas, é estar nervoso, é sentir vontade, é querer, e não ter.



Não Ter



Perdi alguém da qual eu amo muito, do qual sinto desejos, do qual penso a todo instante, a cada segundo, não há distração, não a tempo que me deixe esquecer nem sequer um segundo. Perder é fechar um livro do qual eu comecei uma história, sem querer parar nesse fim tão inesperado, sem querer fechar tal livro e deixar empoeirando em um canto qualquer, em alguma estante velha, um criado do qual não se usa mais, no porão, onde tudo é escuro e medonho, não importa onde, mas em qualquer lugar a poeira vai cobrir aquele livro, da cor da paixão, e com o tempo se torna negro, sendo coberto por pó marrom. Difícil é viver sem ter terminado com um final, um final do qual daria tudo para que fosse feliz, um final, do qual me mostre a verdadeira felicidade, amar, querer tal felicidade, ter a pessoa da qual entrego minha vida, meu coração, minha mente, minhas palavras.
Oh! Minhas palavras. É a forma da qual encontro para chorar, já que em meus olhos não se tem mais lágrimas, e já que a pessoa amada e não minha, as libertou para que elas pudessem voar. Eu gostaria que apenas a tinta de minha caneta esgotasse, daí seria apenas um tempo até eu reabastecer, e continuar tal história, tal romance, tal perdição carnal, tal liberdade de seguir em frente, num corpo quente, do qual eu tanto quero.
Eu gostaria sim de não estar escrevendo tais palavras, gostaria de deixá-las presa já que o contrário disso tudo, seria eu ter minha amada em meus braços.
Dizem que o amor é bobo. Não, o amor é uma doença da qual quando acostumados a perder nesse aspecto, sem ao menos estar sentindo, sabes que sem tal sentimento, a vida não faz sentido, que o legal, é carregar tal peso no coração, estar apaixonado, para que possa contar os dias, para que possa contar as horas, para que chegue o tão esperado momento de olhar no fundo daqueles olhos novamente, de sentir-se protegido de qualquer mal que venha acontecer, sentir que a maior proteção é ter aquela pessoa, aquela da qual você nunca esqueceu, nem segundos nem minutos, nem no almoço, nem ao som de uma música, nem quando passear com o cachorro, ou lavar o carro, nem assistindo aos filmes, que às vezes mostram cenas, ou dizem palavras que lhe faz sentir falta, falar com um amigo, fazer coisas, pequenas coisas que possa se transformar em grandes alegrias.
A vida não tem sentido sem a pessoa da qual amo, mas a pessoa que amo, eu não tenho, no entanto tento, por mais que luto, por mais que eu queira, nada eu vou ter.
Vida, oh vida, fria, injusta, sem nexo.


Renato Kubrusly.
02/09/2008

Uma Espada e Sem Espelhos

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Guerreiros são aqueles que vão a luta e sábios são aqueles que apenas sentam e conversam a respeito.
Não tenho alma para ser guerreiro e nem a paciência pra ser um sábio. Não que não tenha alma de guerreiro, não tenho alma de nenhum jeito, tudo que tenho é medo e receio, abraço meu medo, acato meu receio. Não que paciente eu não seja, mas ficar sentado enquanto moinhos de vento tomam conta dos meus paraísos de ilusão... isso não.
Talvez eu encontre um meio termo, um ponto de equilíbrio, mas desequilibrado do jeito que sou, estou sempre pendendo à esquerda, tudo que tenho é uma espada para enfretar meus demônios na guerra que eu travei para mim. Minha guerra, minhas regras, mas ainda tenho medo, não dou passos a frente nem para trás, e nem assim fico parado onde estou... onde estou?
Nos vultos e sombras que eu cansei de lutar vi alguém, algo, alguma coisa, alguma pessoa... algo ou alguém, ainda não sei, só sei que pendia à direita, e cansada de se ver no espelho, virou para trás e viu algo, alguém, alguma coisa... viu a mim... mas o que sou eu?
Eu só tinha uma espada, ela só tinha um espelho, eu pendia à esquerda e ela à direita e ela não era direita e eu não era de esquerda. Um mais um igual a um, ela pendia à direita e disse que não gostava do que via no espelho, então quebrei o espelho... somos dois mais uma espada e sem espelhos.
Não somos guerreiros, nós temos medo... não somos sábios, não temos paciência, mas sem dar um passo a frente nem para trás, estamos indo a um lugar que não estávamos antes... onde estamos?
Uma espada e sem espelhos, se espelhando um no outro, só temos a espada, e mesmo que apareçam cem espelhos, temos uma espada e temos um ao outro... mas afinal, o que temos?
Dois contra o mundo? Pior pra ele, ele está em desvantagem numérica... dois contra o mundo? mas não somos guerreiros, se estamos juntos e enfrentando o mundo, foi porque ele começou e não temos paciência para espera-lo, disfarçado de moinho de vento, se acalmar...
Decifra-me ou devoro-te? Espero que ambos... agora estamos em equílibrio, com uma espada, e sem espelhos.

Obi

00:51 / Postado por Figgis / comentários (1)

Obi era forte e destemido, mas também era pequeno e risonho. Não ligava para as coisas desse nosso mundo de adulto, como dinheiro ou trabalho, se os tinha, usava para viver feliz, e se não tinha, vivia feliz mesmo assim.
Quando eu era ainda mais criança do que sou hoje, Obi veio me visitar pela primeira vez, inocente e feliz. Ele era todo fofinho, o pelo tão branquinho que mais parecia um floco de neve. Passou a patinha na minha face, enxugou minha lágrima e me perguntou com um sorriso cativante:
-Porque está chorando? Não fique triste - dizia ele - venha brincar, vamos brincar de pega-pega, porque não adianta nada ficar aí no canto chorando, tem que se distrair para esquecer seus problemas.
E assim foi, brincamos por dias sem parar, ele era meu melhor amigo, ele nunca ficava triste, sempre inventava algo novo para a gente se divertir.
Meus pais achavam que era só um amiguinho imaginário, mas não, não era, Obi era real, era a coisa mais real que eu tinha. As vezes ele ia embora e ficava dias sem aparecer, e então eu ficava triste de novo, mas ele voltava, e dizia que mesmo quando eu achava que ele não estava ali, ele estava... ele sempre esteve presente, eu é que por vezes não vi.
Obi me disse que vivia numa terra mágica que ficava escondida no Pólo Norte, e que lá viviam vários ursinhos que nem ele. Dizia que lá era dia por seis meses e noite nos outros seis, e que quando era dia, tudo ficava tão quente que o calor era quase insuportável, e nos "dias de noite" era tão frio, mas tão frio, que ele e os outros nem saíam pra brincar, ficavam escondidinhos na sua toca, hibernando.
Os dias passam e com eles passa-se o tempo, passam-se os anos. Em minha juventude, Obi continuou a me visitar, eu estava crescendo e ele também, meus pais achavam estranho um garoto da minha idade brincando com meu amigo imaginário, mas nada diziam... fazer o que, essas coisas da mente são assim.
Quando ele estava por perto, os dias eram alegres e tudo a minha volta tinha vida, mas quando ele ia embora eu sentia tanta saudade que nada ao meu redor parecia fazer sentido. Será que é noite lá no Pólo Norte também? Será que Obi está hibernando?
Meu ursinho Obi... meu ursinho Obi... o tempo passou e hoje sou adulto, não posso mais abraçar Obi, às vezes vejo ele de longe, acenando para mim, pedindo que eu vá lá brincar com ele, mas não posso, embora tudo fique feliz quando estamos perto, ele sempre vai embora, e tudo sempre fica frio... gelado, acho que se continuassemos a brincar, eu acabaria me mudando para seu mundo mágico, e não sei se aguentaria o calor, nem o frio... é melhor ficar no mundo real, onde tudo parece fazer mais sentido, não estou feliz, não estou triste... como será que está Obi? Será que um dia ele vai acordar de seu hibernamento e me abraçar de novo?