Curto Desabafo

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Beijo na testa, carinho. Beijo no queixo, vontade...
Como se esquece aquilo que nunca esteve na sua memória? Como se esquece aquilo que ainda não viveu?
Hoje, pensar em ti me fez esquecer porque queria te esquecer.
Em que ponto, ponte, parte, porto ou porta você vive? Nem eu, nem Deus e nem o Diabo sabemos.
Mas você vive em mim.
A contra-gosto, porque não posso sentir seu gosto.

Madrugada Vermelha - Parte 3

17:13 / Postado por Figgis / comentários (0)

Abalado

A garoa sempre fina da metrópole sem nome caía. Caía na grande avenida deserta, caía na pequena rua estranha que a cruzava cheia de bares alternativos e boates underground e caía na porta da Sodoma moderna, o “Le Rouge”.
Os pingos matavam a sede do asfalto calorento, acalorado, que era pisoteado dia e noite e agora se aprazia evaporando os pequenos grãos de água que lhe era proporcionado.
O vento da chuva fazia questão de arrastar por dentre as frestas do Le Rouge essa brisa vaporífera que se misturava ao gelo seco e dançava sensual com os corpos pingantes de suor que se esbaldavam daquele velado ritual de acasalamento.
Homens e mulheres em transe de transa, alinhando verticalmente seus desejos horizontais. Os corpos se tocam, os olhos se engolem, os sorrisos atiram.
Encostado no balcão, Daniel apenas assiste a tudo, com o copo de caipirinha na mão, esperando que o álcool lhe traga a coragem que serve de convite nesse tipo de festa. A outra mão sai do bolso da calça jeans com o celular de última geração e com um toque liga a luz que revela a hora. Duas horas...

- Ei Daniel, vem dançar, desde que começou a namorar fica sempre pelos cantos amuado. Aproveita que hoje a a Rê não tá contigo e vem dançar comigo. - dizia a loira e lesa Lívia, com a mão sobre a dele rebolando o quadril avantajado que Deus e o Diabo lhe deram como arma de conquista.

Deveras a Rê, a Renata, namorada de Daniel não estava lá. E também é verdade que depois do começo do namoro ele vivia pelos cantos. Ambas afirmações tão verdadeiras quanto àquelas que não se diz, como o fato de Renata estar em casa, dormindo abraçada ao ursinho, sem saber que Daniel foi pra balada, ou que consome com o olhar a loira fácil que não desprendeu-se, dele um minuto.
Muita bebida pra pouco homem, ele se levanta torto e ensaia um gingado cuidadoso para que o líquido não lhe fuja do estômago.
Lívia se esfrega, se enrosca no Mauricinho com pinta de Ricardão, o pobre, podre Daniel.
Não, não dá, o álcool não lhe comrpou um ingresso para o ritual de acasalamento, mas a lesa Lívia não se importa:

- Vem, vamos sair daqui, tá muito quente, vamos pra um lugar mais sossegado, Dan.

Dan... iel cala e consente, puxado pelas mãos iria até pro inferno se ela o levasse, e levará...
Trocando risadas com a mesma proporção que trocam as pernas, lá vão Lívia e Daniel rua afora, pela rua estranha até a grande avenida. Encostado na porta do carro, um compacto de última geração, Daniel tenta pensar no que está acontecendo enquanto Lívia o estupra sem sentimentos e com todo consentimento. Beijos, línguas e mãos sob os olhos da garoa que evapora no corpo dos amantes.
Daniel alcança as chaves do carro, imperfeitas condições para dirigir pra qualquer lugar pra ser comido por Lívia, mas há outro homem sob o olhar conivente da chuvinha.

- Aí cuzão, se abrir a boca tú morre, seu viado. Passa as chaves, vai, vai...

Lívia se afasta e cai, tropeçando no meio-fio. Daniel ainda se perguntando cadê a boca que massageia a sua sente as chaves sendo puxadas de sua mão. Ele nem reage.
O homem age. Dois tiros em Daniel, um no peito e outro na garganta.
Dan de olhos abertos vê Lí, melhor amiga de Rê, fugir dali.
O homem arranca o carro da rua na mesma velocidade que arrancou Daniel do mundo.
No chão, a garoa cinza esquenta o corpo do que era Daniel, que está friorento, resfriado... rodeado pelo sangue písado que é da cor do céu daquela noite...

- Rê...

Regras de Uso

17:10 / Postado por Figgis / comentários (0)

Devido a queixas que não foram feitas, nós fomos aptos a identificar dez sintomas comuns ao convívio com tal ser humano. A seguir a lista com indicações de como usa-lo.

1 - Se você acha-lo um doce, espere alguns dias que isso passará. Ele enjoa.
2 - Ele não tem capacidade mental suficiente para ser adestrado. Mas entende comandos simples como: “Senta”; “Rola” ou “Sai da minha frente que eu não te aguento mais”. (Obs.: o mesmo não se aplica a “Finge de morto”. Ainda não conseguimos encontrar o motivo, mas tal comando não é reconhecido pela criatura.)
3 - Existe a possibilidade de se sentir atraído por ele. É uma sensação parecida com a de cutucar uma ferida ou tomar sorvete muito rápido, embora você não goste, não consegue resistir. Para isso não há cura, apenas fique por perto. Como a ferida ou a dor de cabeça, ela passa.
4 - Se acha-lo interessante, mantenha contato. Passado algum tempo, seus conhecimentos cessam e esse sintoma simplesmente se esvai.
5 - Se acha-lo inteligente ou culto, siga os passos da regra 4.
6 - Favor não misturar com líquidos.
7 - Se trata de um ser extremamente inconstante. Não estranhe se ele mudar de atitude de uma hora para outra, ele funciona em ondas cíclicas.
8 - Possui características aderentes e um código genético parasita. Se você sentir que ele está tentando grudar em você, recomendamos um corte cirúrgico em suas funções sociais.
9 - É de suma importância que não o alimente com informações pessoais. Ele costuma regurgitar de forma hostil tais informações sobre você.
10 - E por último mas não mesmo importante. NUNCA! Nunca se apaixone por ele. Testes que vêm sendo realizados há vinte e dois anos revelam que tal prática traz malefícios incuráveis para ambas as partes.

Se mesmo assim os sintomas continuarem, recomendamos um tratamento intensivo que visa induzir uma dose cavalar dos malefícios citados acima. Esse tratamento pode ser um pouco dolorido mas apresenta total eficácia, com garantias de que o paciente será totalmente curado e apresentará repulsa pela substância humanóide referida.
Mas precisamos advertir que embora ainda não se tenham registros de tais casos, é possível que existam pessoas imunes a tudo que já foi citado. Por isso, sejam extremamente cautelosos.

Sem Sanção

00:17 / Postado por Figgis / comentários (0)

As vezes estou de bem com o bem que você me faz,
Rindo, só rindo do bem que o bem me traz.
Constante mente que me traz do ar,
E me traz os ares do que me deixa sem ar.
As vezes te sinto sem sentido,
Me senta sem vestido,
Me sente cem sentidos,
Se sente e senta e cinta,
Sem tidos...
As vezes bem sem você me faz,
Inconstante sede do consentimento,
Com sentimento de um sem tido sem trás.
Sem ar, sem mar, sem vestido,
Sem sanção...
Bem que você me faz bem as vezes.
Paralitica mente que, esporádica, mente.
Pertinente e aparente,
Foge pela frente,
Tempestade e ímpeto
Vá lente...