Delírios e Verdades

04:15 / Postado por Figgis / comentários (1)

Olha ali, lá vem ele de arma na mão.
Talvez não queira ser como seus pais. Talvez queira defender o seu país.
Olha, vê lá. De pasta preta caminhando em direção.
Em direção do que? Em direção ao nada.
Comprou seu novo nada zerinho e agora é forte e veloz.
O bombeiro engole o medo e finge que tá tudo bem.
O piloto tá com sono e triste porque não tem ninguem.
Seus estados são Status Quo.
Fingimos sempre ser alguem.

Somos todos almas indecisas,
Voando com asas imperfeitas.
Do espelho, imagens distorcidas.
Das imagens, espelhos com defeito.
Somos apenas crianças brincando de ser adultos...

O certo e o errado parecem coisas certas.
É uma estrada onde ninguém dá seta.
Vamos brincar de donos da verdade,
Vamos brincar que temos então certeza.

O psicólogo ainda tem dúvidas de quem é.
O professor respira fundo ao ver,
Aqueles jovens pensando em ser pessoas,
E pensando que pessoa também queria ser.

Veterinários, astrônomos, astronautas, autônomos.
Seus estados são Status Quo.
Suas verdades com validades embutidas.
São todos adolescentes com suas dúvidas infantis.
Tudo bem ali, em um mundo perto do seu...

Somos apenas crianças brincando de ser adultos...
Você me abraça?

Dia dos Namorados

00:28 / Postado por Figgis / comentários (1)

É meio-dia, caminho pelo parque.
Sorvete de casquinha... sorvete de creme, que delícia. Carrego dois.
Ali está ela, sentada no banco, pernas cruzadas, brincando com o cabelo, vestido laranja, leve.
Amo o jeito que você brinca com o cabelo, amo suas pernas e o jeito como seu cabelo se move com o vento... amo esse vestido que você está usando! Te amo leve... Ela pegou o sorvete... porque me olha assim?
Sentei enquanto ela levantava, me calei enquanto ela falava. O que houve? Respiro...

-Você é uma pessoa maravilhosa e eu te amo, mas... mas...

Mas tem mais, fecho meus olhos e sinto o vento. Ele me toca assim como a toca. Um vento bom me deixa feliz...

-Somos tão novos, temos nossa vida pela frente. O problema não é você, é que eu não quero a pressão de estar junto com alguem pelo resto da minha vida...

Recostei a cabeça contra o banco, o corpo arqueado para trás.Eu nunca disse que nosso amor era eterno. Eu nunca disse a ela a pressão que tive que suportar da minha família, dos meus amigos que me diziam como ela era...Meus olhos ainda estão fechados, mas a luz do Sol ultrapassa minhas pálpebras.
Eu nunca cobrei nada dela...

-Eu sei que você não me cobra nada, mas eu já não me sinto especial do seu lado, você nem liga mais pra mim.

Eu amo esse tom de voz quando ela fica brava... Respiro:

Nós dois deitados na cama durante a madrugada. Ela alisa meu cabelo, brinca de enrolar e curtimos o silêncio juntos. Viro e beijo sua perna, suas coxas lisas na parte onde a camisola não cobre.

Inspiro.

-Antes eu costumava me sentir segura do seu lado, mas agora tem sempre um problema novo!

Respiro:

Eu falhei, fui reprovado no vestibular. Está chovendo fino e curvado. Uma chuva repentina que me acerta nas costas e realça o que eu estava sentindo. Lá estava ela, sorrindo do outro lado da rua, o cabelo molhado colava no rosto e nos seios, saia levemente esvoaçante.Afundei minha cabeça tão fundo em seu ombro que achei que tocaria seu coração com a ponta do meu nariz. Soluçava um pedido de desculpas, nem queria pensar em quando seria quando chegasse em casa.Mas seus braços, aqueles braços... me envolveram e a ponta da mão direita chegava a tocar o lado esquerdo da minha cabeça. Ela arranhou de leve minha pele com o pedaço da unha que me alcançava e me deu um beijo molhado de chuva que me acertou o ombro e a nuca.Eu fugi do mundo e me escondi nela, e vi minha última máscara cair. Mostrei minha fraqueza e um beijo de ombro e nuca me deixou pleno e forte.

Inspiro.

-Você tá escutando o que eu tô falando? Eu não quero mais você! Eu não ligo mais pra você!

Respiro:

O nosso primeiro beijo, embaixo da macieira. O engolir seco enquanto o telefone chamava no dia seguinte. Ajoelhado em frente a ela no banco da praia, quinze dias depois. A expressão que ela fez, rindo e chorando, quando eu disse a ela que a amava. A noite chuvosa que ela disse que me amava, um mês depois. Ela brincando com o cabelo em uma tarde que eu já não lembro qual era. Seus olhos ternos olhando pra mim enquanto nos amávamos.

Inspiro. Abro os olhos. Cadê meu sorvete? Deixei cair, não consigo ver direito, minha visão úmida está embaçada. Que papel de bobo eu estou fazendo na frente dela! Ela me olha com raiva e deixa uma gota escorrer de seus olhos.

Cabisbaixo, respiro:

No hospital, eu segurando sua mão enquanto ela passava a mão no rosto de seu pai antes de sairmos de lá. Eu passo a unha que está para cortar na mão dela e ela se vira, tentando ser forte ao sair dalí quase cambaleante. Eu a abraço e beijo seu ombro-nuca. Caminhamos juntos na mesma direção. Seus olhos claros por causa do choro.

Inspiro. Seus olhos claros por causa do choro.

-Só não diga nada! Não diga que me ama! Me deixe ir, tá bom?

Vontade de gritar. Respiro:

O dia que lhe dei o vestido laranja. Ela puxa a alça da camisola e deixa cair ao chão, se trocando na minha frente com um sorriso juvenil. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Seus lábios. Nossos lábios. Lembrei que dia ela mexia nos cabelos daquele jeito, foi na primeira vez que nos vimos. Seus lábios.... seus olhos.. suas pernas... sua leveza... Seus lábios!

-Eu te amo!
-Eu te amo!!!
-EU TE AMO!!!!!

É meio-dia e quinze. De costas, longe... sumindo.Enquanto vejo seu cabelo ondulando rebolado, dançando a cada passo, percebo o que nunca percebi...

JOGOS DE AMOR SÃO PARA SER JOGADOS.

Eu te amo.... respiro...

Mensagem Fúnebre Para o Corpo e a Alma

03:01 / Postado por Figgis / comentários (0)

Que cansaço!
Sinto-me cansado de estar cansado, sento-me.
Senta o cinto, um crivo em um cravo enquanto me calo escravo
Cravo as crases nas frases que me fazem escoar os abraços
Escoo, escorrido, escorregado... sinto, me sinto... me soo, me sou escravizado
O corpo encorpora a carreta e em careta me encoraja a ser desencorajado
Me comparo... paro
O tédio que é remédio, mais que médio, é mediano
Me adianto...
Naufrago dentro do meu corpo necrofágico
Verborrágica ascensão, náufrago em um trago
Quero o melhor trago do teu pior veneno
Pois trago um trago da minha poção trágica
Me faz pensar em não pensar
Me faz agir em indigestas faltas de gesto
Me faço... fácil... falso
Estou com tédio do médio
Estou cansado...

A Vida e o Desenho

02:56 / Postado por Figgis / comentários (0)

Olho ao redor e vejo uma festa, pessoas ali paradas, inertes em sorrisos e desejos. Olho melhor e me vejo ali no meio.
Vejo um precipício enorme se formando entre meu corpo e minha alma, será que é assim que as coisas são?
Acho que nunca me senti tão sozinho, tão na escuridão. Solidão que sorri por mim, que estrangula sensos, sentidos e sentimentos.
Solidão tão forte que as vezes desejo que as paredes tenham ouvidos... solidão tão grande que até as vozes na minha cabeça não me respondem mais.

Queria que a vida fosse rabiscos em um livro infantil.
Tão sem maldade, tão sem malícia.
Árvores com buracos e sorrisos inocentes.
O Sol tão próximo das nossas cabeças.
Tão simples, tão claro... Toda a vida em um fundo branco.
Não se desenha o escuro em um desenho de criança...

Claustrofobia

02:52 / Postado por Figgis / comentários (0)

Claustrofobia catatônica,
Prende meu corpo e tira meu ar
Gaiolas com cortinas
Monstros no ármario
Claustrofobia agorafóbica
Correntes na mente
Demônios na gente
Demônio nas gentes
Céu azul marinho
Mar azul celeste
Nada me importa
Nada me quer, não quero nada
Claustrofobia programada
Limitações ilimitadas
Irritações imitadas
Prisão a céu aberto
É força da fraqueza
Fortaleza
Patrimônios fraticidas
Sem dentro ou fora
Agora, clausura
Fobia.

Eu Te Amo

02:48 / Postado por Figgis / comentários (0)

Quem que te ensinou a ser tão linda assim?
Te fez perfeita e te mostrou pra mim
Me deu teu gosto e fez-te discordar

Quem agora pode me dizer cadê
Toda a certeza que eu tinha de viver
Sentir, chorar, mas no final vencer.

Agora, quero trazer de volta teus abraços
Sentir no olhar o teu maldoso laço
Jogar contigo e te deixar vencer.

Sei que o final só foi triste pra mim
Que terei mais colombinas, você Arlequins
Mas achei que o nosso carnaval não mais teria fim

Vai, como se vai tudo na vida
Deixa lembranças e um copo de bebida
No jogo do amor eu te deixei vencer...