De Passagem

02:47 / Postado por Figgis / comentários (0)

Subindo no ar formando teias de fumaça, assim mantêm-se a chama do meu cigarro, dançando pelo meio da sala e subindo aos céus, juntando-se às nuvens cinzas como a cidade que me rodeia.
Cidade cinza... cinzas do cigarro.
Tudo uno, unido... fortificado.
Uma tragada de morte mar adentro, a viva chama do cigaro quase queima os meus olhos.
Assim como a cidade cinza em cinzas, assim como o cigarro que se esvai em soberba fumaça dançando solamente, eu me vou, vivendo no espaço, em cinzas e em chamas...

Lágrimas por Medo

16:07 / Postado por Figgis / comentários (1)

De todos os sentidos sentidos,
O que eu mais sinto falta
São das práticas práticas de linguagem da tua língua
Os braços entre braços dos abraços
Dos teu braços,
Dos teus laços,
Dos teus casos...

O cheiro da lua no seu cabelo
Pele de seda
Sede de pele
Aroma de lua que mingua aos poucos.

O segundo sol é forte,
Os filmes me jogam na cara o que eu não tenho mais.
Me sinto meio engraçado, me sinto meio triste.
Sou absoluta contradição.
Contradiga-me...

Sinto falta do teu olhar de olhar nos olhos.
Olhar seus olhos enquanto nos olham.

Simples é tudo aquilo que não sai da nossa imaginação,
É simples puro e sem sentido,
Sinto saudades de algo que não faz falta.
Sinto sua falta porque está longe,
É puramente simples: sinto.

Suas práticas práticas de linguagem...

Das Batalhas Que Não Lutei

05:57 / Postado por Figgis / comentários (0)

Épica seria a batalha que deixer de lutar.
serei eu eterno antagonista de minhas próprias ações?
Dom Quixote de anseios frustados no pico de uma montanha solitária.
Lanças e espadas virtuais
,Enfrentando meus moinhos de vento que teimam em disfarçar-se de demônios.
Ou seriam os demônios que se disfarçam de moinhos?
Milhares de milhares de milhares de anos por dia em lutas vãs
Vastas e vasculares, triglicerais e unidimensionais.
Paus e pedras quebraram meus ossos como eu sabia que fariam
Mas da onde veio a arma que destruiu minha alma?
Por essa eu não esperava.
Espero que quando eu acabar comigo ainda não esteja acabado para lutar...
As batalhas que devia ter lutado,As batalhas que deixei de lutar...
Se Deus criou a nós a sua imagem e semelhança
E vive boa parte do livro de ação lutando com seu demônio
Talvez tambem tenhamos o direito...
Aquela que flutua a minha volta e me carrega a lugares escuros
É demônio de nova era, com novas asas e recursos.
São Diabos que já vem com advogados e jurisdição.
Do fim da batalha à batalha sem fim...

Ciclos e Lembranças

00:56 / Postado por Figgis / comentários (0)

Terminou como começou, com centenas de cores sinestésicas explodindo em fogos, regojizo de um ano bom.
Eu provavelmente deveria escrever isso há alguns dias atrás, antes desse ciclo anual se encerrar, seria um texto de fim de ano. Mas não, só agora, dia... (pausa para ver que dia é hoje), cinco de janeiro o ano se encerrou para mim, só agora esse ciclo se encerrou.
Ciclo... palavra engraçada para descrever um ano não é mesmo? Mas no final, foi isso, um grande ciclo que encerrou doze ciclos que encerrara trinta ciclos. Ciclos...
O que foi esse ano que passou? Para definir muito em muito pouco, diria que foi um grande maremoto disfarçado de marola. Teve aquilo e aquilo outro, teve aquilo lá também e mais aquilo que aconteceu aquele dia... um emaranhado de pequenos detalhes.
Sei que a Terra girou, porque estava no mesmo lugar com as mesmas pessoas. Mas não era mais o mesmo, e não éramos mais os mesmos.
Acho que isso é a definição do ciclo, do círculo, algo que começa e termina no mesmo lugar, embora tenha viajado tanto.
Lembra quando eu fiz aquilo e eles me olharam daquele jeito? E eu tive que fazer aquilo?
Ou quando eu tomei aquilo, me senti daquele jeito, e acabei fazendo aquela coisa que me levou até aquilo? Pois é...
Tudo aquilo...
Larguei aquilo, conheci aqueles e aquelas, e quase sempre não era tudo isso.
Eu passei o ano inteiro caminhando sem rumo, sem meta e tem gente que acha que por isso eu não saí do lugar. Eu podia não saber para onde estava indo, mas acreditem, eu cheguei muito mais longe do que muita gente que percorria o próprio rabo.
Mas a esperança renasce nos fogos, e o ano inteiro explode com ele.
Fogos brancos com cheiro de maresia, fogos vermelhos com som de euforia, fogos amarelos com gosto de derrota e fogos beges como a areia que cobre meus pés descalços... o ano se explodiu.
E foi isso, ou melhor, foi aquilo. Eu não sei ainda, passado tristeza e felicidade, verei qual dos dois se dissolve, e qual resume o ciclo.


Para encerrar queria colocar as únicas coisas que levei desse ano que passou, se espaçou e sumiu. As únicas coisas...

Aquele dia de manhã, alguns dias antes de sair de São Paulo. Era sábado mas parecia domingo. Com os pés descalços eu tocava o chão coberto de farelos. Aquelas partículas de pão, embora devessem me deixar incomodado, dançavam pela sola dos meu pés, me faziam cócegas juvenis e inocentes e se dissolviam como pequenos grãos de açúcar quando eu andava no chão gelado da cozinha. Naquele momento não tive preocupações, e eu ouvia “Por Enquanto – Legião Urbana” na minha mente. O Sol iluminava uma pequena parte do chão e eu sentia aquele cheiro que infelizmente não me lembro mais como era. Mas vivo e viverei por momentos como aquele. Me senti calmo, em paz, pela primeira vez na minha vida, e só eu posso entender o que isso significa.

Essa segunda situação que não me esqueço tem até hora marcada, mas já não me lembro que dia foi. Era apenas um dia trivial, e se me lembro as horas é porque por um certo tempo esperei o ônibus todos os dias nesse horário, seis e meia da tarde, para ir ao curso preparatório. Enfim, o ponto fica em frente ao jardim da praia de Santos. Passado o jardim, vinha a avenida, o calçadão, a orla e, por último, o manto de águas e paisagens. É engraçado como não prestamos atenção naquilo que nos rodeia diariamente, mas nesse dia me bateu como um estalo aquela miragem, aquele quadro vivo. De repente ficou tudo diferente, como um deja-vu nuca visto, como uma paulada súbita na retina que enquadra tudo fora de quadro. Acho que durou um milésimo de segundos antes do ônibus parar e eu entrar. Um milésimo de segundo também é um ciclo, e nesse ciclo aprendi algo que faculdade nenhuma ia me ensinar.

A terceira coisa que vou levar aconteceu mais de uma vez, mas foi essa em específico que me fez entender o que eu gosto na interação humana. Ele estava sentado no sofá dedilhando o violão. No outro sofá, deitado, o outro tirava um cochilo depois de passar o dia no trabalho, e no chão, ao lado da porta, o terceiro lia um livro técnico e mexia os dedos dos pés de acordo com o som que emanava do seu MP4. Eu por minha vez estava com os fones de ouvido, ouvindo algo no computador comunitário e parei a observar a cena sem que ninguém me notasse. Não tinham visitantes e moradores, hóspedes ou anfitriões. Não tinham amigos ou inimigos, apenas quatro pessoas em um mesmo lugar vivendo suas vidas. Eu realmente amo a individualidade coletiva.


Existem mais algumas coisas que não quero colocar no papel mas espero que fiquem comigo para sempre, juntas das várias outras trivialidades que aconteceram em outros anos, e espero que não sejam apagadas pelas que vêm por aí. Mas apenas como citação, algumas delas:


A imagem das árvores vista de cima da laje. Um abraço sincero naquela menina que eu tinha acabado de conhecer no meio do show, quando eu fui embora com a certeza de nunca mais nos vermos. Aquela maldita risada cínica do meu amigo. A vista do deck dos pescadores em uma noite chuvosa. Aquela carona (é impressionante como a cidade de Santos fica bonita a noite acompanhada de comentários inteligentes e verbologia cinematográfica).E mais aquilos e aqueles...


Enfim... ciclos.