Naissance

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Eu não nasci para ser existido.
Sou normal, total, quase imparcial,
mas não sou real, original.

Sou coadjuntor, peça base, padrão,
padronizado, parolisado
mas não astro.

Nem astrológico, nem astro físico,
nem astrofísico ou astronauta.
Não sou alto-astral, passional,
muito menos bem legal, radical.

Sou fio do tear
como todos nós,
mas sou fio de centro
não fio de nó.

Resumo, resumo, vou resumir,
tem gente que nasce pra viver
e gente que nasce pra existir.

Passarei.
Há quem não passe jamais..

Futuro do País

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Hoje eu acordei...
Vi uma fiel nação que suportou todas as derrotas, vibraram em todas as vitórias e gritaram: "Eu nunca vou te abandonar!".
Cantavam em unissono o seu hino majestoso, se orgulhavam disso. Toda vez que seus representantes em campo tinham o controle da situação, a felicidade era geral.
Tinham o Gavião tatuado na alma, o que lhes inspirava força, liberdade, vivacidade, e que nunca os deixava desistir de acreditar, mesmo em tempos difíceis não abandonaram suas convicções.
Quando se viram rebaixados, exigiram mudanças! Protestaram, clamaram por algo melhor, expulsaram quase a dentadas os macacos com fantasia de engravatados que geriam seu mundo.
Essa gente não renegava suas origens. Sabiam que era através de seu suor que poderiam ir adiante, clamavam sem nenhum perjúrio "sou malequeiro, sofredor e com muito orgulho".
Tinham garra e disposição, sem nunca desanimar voltaram a elite, alcançaram o topo, o 1º!
Sabiam tudo, viam tudo, nada lhes passava. Na mesa do bar você via pais de família discutindo táticas, técnicas e nomes para que sua nação mantesse sempre um alto padrão de qualidade.
Vestiram a camisa, seguiram de perto todos os passos, lutaram quando foi preciso, apoiaram quando não tinham mais o que fazer e celebraram a justa vitória quando alcançaram um espaço entre os melhores...
Foi então que eu adormeci...
No meu sonho, nada disso tinha acontecido, meu país ainda tinha macacos fantasiados no poder, o povo ainda não se orgulhava de suas origens, mal sabia seu hino... culpavam os poderosos pela miséria e se alienavam em mesas de bar, vendo idiotas jogos de futebol...

Prefiro minha vida desperta...

Ferido Diário

02:47 / Postado por Figgis / comentários (0)

Anotações em meu ferido diário:

Na vida, o homem caminha, não voa. Tão jovem com a minha sigo a boa, a toa, a tola jornada que passa enquanto passo, que passa passo a passo pelos passos curtos.
Perene ilusão que eu tinha do vôo. Perece a ilusão que eu tinha o vôo.
Eu vi tudo ao meu redor, mas o que me rodeava era um quarto de um quarto escuro de portas fechadas e janelas abertas, piscando. Vi favores em vapores, ardências em falências, ameaças em desgraças...
Dei um passo a frente me mantendo no mesmo lugar. Eu não queria caminhar, eu quis voar. Estaria mais perto das nuvens e mais longe do chão.
Não, a vida é andarilha. Anda milha a milha. Trilha o trilho.
Lá do alto vi a todos tão pequenos, via todos tão pequeno. Foi fácil me jogar no alto, não tinha quem me julgasse no ato, estava sozinho.
Eu caí de novo, sou pequeno. Aqui em baixo vejo quem sou eu, sou igual a alguém, sou igual ninguém.
Mas sou vivo filho de um mundo. Sobrevivo filho de um mundo. Acordei, revivi, revi, revisitei, revigorei.
Aqui tenho noções das proporções. Não sou grande, não são os outros pequenos, não sou pequeno, não são os outros grandes... cai por terra mais uma ilusão.
Fim da ilusão de adultecência, sou garotinho, está na hora de trilhar o trilho, tenho muito chão pela frente.
Tenho que caminhar, volto a ti outra hora ferido diário. Tomarei cuidado com as irônias... mas sabes tu que não aprendo nem quando me arrependo. Vou andando...

Sóis da Manhã

16:20 / Postado por Figgis / comentários (0)

Primavera gentil
Prserva em mim os sóis da manhã
A sós na manhã,
E os sóis de amanhã.

Não sou teu, primavera gentil
onde tudo floresce, nasce, cria
Sou do inverno, sem sóis,
Sem sóis, só sós
Mas permita-me sancionar
Sê tu serena com o severo Sol.

Primavera
Preza as plantas, sê tu mãe gentil
Mas não semeie sensações sem sal
Sem som, sem sombra

Primavera do céu e da terra
Sê tu o Sol
Não me nego aos sóis da manhã
Não me negue o luar senil

Primavera, mãe gentil,
Sê tu a primavera, mãe gentil
E deixe que algo sobre em mim até o próximo inverno
Que me sobre lembranças dos sóis da manhã
Porquê sou do inverno, luar senil
E sóis da manhã são só presentes do passado
E mesmo no presente se há passado

Preserve em mim os sóis da manhã,
Mas não me torre
o corpo, a alma e a paciência
Primavera gentil.

Por Um Sonho a Mais. Por Um Sonho Amai

15:00 / Postado por Figgis / comentários (1)

Duas horas da tarde. Metrô Paraíso.
Eu estava pausado ali, estagnado em um dos bancos da estação. Eu me lembro que lia alguma coisa, mas já não lembro o que era... essa estória jaz a anos. Mas tem algo ali que nunca me bandonou. Uma imagem, uma visão.
Para aqueles que conhecem a estação podem ter uma idéia do cenário dessa pequena saga. Na linha verde, dois trilhos separam as pessoas que seguem os sentidos opostos. Do lado de cá, onde estou, segue-se sentido Vila Madalena, do lado de lá, o metrô avança no sereno ritmo caótico de São Paulo até o terminal do Alto do Ipiranga.
Pois bem, lá estava eu, o personagem principal da história de minha vida, descansando por alguns minutos, sentado e lendo. Foi então que ergui os olhos, por um segundo... por um segundo apenas, e lá estava ela.
Do lado de lá da estação, ela terminava de descer as escadas que dão acesso a linha do trem. Lembro-me até hoje, como se fosse uma foto, a palma da mão acariciando de leve seu pescoço e os dedos tocavando-lhe os cabelos cacheados, castanhos, que dançavam até as costas.
Não, não era uma mulher, era uma deusa, um anjo! Não existem palavras suficientes no mundo para descreve-la aqui, por isso nem vou tentar, seria um insulto encaixar tamanha beleza em tão poucas palavras, nem meu vocábulário inteiro de adjetivos a detalharia com exatidão, então me abstenho de mais descrições e os deixo com apenas uma palavra... um anjo!
Eu nunca vou entender o que foi que senti por aquela garota. Não foi amor, por favor, não imaginem aqui uma história linda de amores a primeira vista. Muito menos tesão, novamente peço, não menosprezem todos os sentimentos que corriam por mim quando a vi como algo controlado por uma parte tão egoísta de mim.
Era algo diferente de tudo, aqueles segundos foram cravados na minha memória e talhados na minha alma de uma forma que eu nunca vou entender. Tive que fazer um enorme esforço para que o livro, aquele fino livro, não caísse da minha mão.
Foi naquele momento que entendi as cenas dos filmes, onde tudo fica mudo(ou será que era eu que tinha ficado surdo?) e onde o mundo para por alguns instantes, para que algo maior por ali passasse.
Ela se aproximou calmamente dos trilhos. Eu juro que tentava não olhar, tentei fingir que nada de mais estava acontecendo, mas o que estava acontecendo era demais!
Mas como eu não estava em um filme, e sim na metrópole que não para, nem mesmo para respeitar os sentimentos puros de um tolo, o barulho da minhoca de metal que se aproximava da estação tirou qualquer pensamento (ou a falta dele) que eu pudesse estar tendo no momento. Era o meu... era o meu metrô que chegava, Vila Madalena. Fechei o livro e entrei, mas quase não consegui entrar antes que a porta se fechasse, e como castigo de algo imperdoável na cidade grande, por me demorar já não tinha mais lugares para sentar.
Mas foi aí, meus amigos, foi aí que algo maior aconteceu, algo mágico, algo que nada nem ninguem vai me tirar. Ela olhou pra mim! Sim, juro, aqueles olhos de ternura olharam diretamente para os meus, e fez o que só as mulheres conseguem fazer, olhou através dos meus olhos para dentro de mim e pôde analisar as intenções que tinha com ela. E ela lendo em mim tudo aquilo que eu não sabia o que era, me deu o sorriso mais lindo que já vi em toda a vida.
As más línguas poderiam dizer que dentro naquele vagão tinham dezenas, centenas de pessoas, e que as chances de ter sido para mim que ela olhou eram ínfimas, ou que ela estava a rir de mim, e não comigo, já que naquele instante, enquanto eu a observava, minha cara estava mais abobalhada do que já costuma ser. Mas eu peço que as más línguas, por favor, não digam nada, deixem-me apenas guardar aquele sorriso.
Eu sei que era para mim que ela olhava, eu sentia isso. E foi dessa forma, trocando olhares numa estação de metrô enquanto o trem me arrastava consigo para longe dela, que minha história teve começo e fim.

Eu sonhei com ela essa noite, acreditam. Faz um ano, dois anos que a vi, mas eu sonhei com ela sorrindo pra mim essa noite. Ela estava com a mesma roupa, o mesmo sorriso, a mesma idade...
Quando aprendemos a observar os detalhes do mundo, aprendemos tambem a observar a beleza nas pessoas que vivem nele. Aquela garota nem sabe que eu existo, eu por outro lado não consigo esquecer que ela faz parte do universo, iluminando e melhorando as coisas ao seu redor.
Ou talvez não, e aí reside a beleza nesse encontro casual. Eu nunca vou saber quem ela é, não tive tempo para julga-la, como fazemos com todos que estão ao nosso lado. Já tive grandes amores e descobri que os amores residem no tempo, no conhecimento, nos pequenos detalhes. Eu não tive amor por ela, eu nem a conheci, não conheci seus pequenos detalhes. Ela pereceu na minha existência antes que qualquer defeito fosse aparentado, e por causa disso viverá para sempre em qualidades. A perfeição só existe assim, na ilusão... mas quem disse que a ilusão não faz bem de vez em quando?
Volta e meia eu me pego imaginando como seria se eu tivesse feito alguma coisa. Me pego revisitando aquele momento e imagino o que teria acontecido se eu tivesse insistido, se não tivesse entrado no trem, e sim dado a volta para alcança-la, trocado algumas palavras, gritado amor incontido para ela no meio do metrô.
Mas não, não era assim que tinha que ser, agora ela existe aqui dentro para sempre, aquela experiência ilusória foi tão real para mim que qualquer toque de realidade a cena seria uma ilusão.
Ela não foi a primeira, não foi a única que passou por segundos na minha vida e deixou sua marca. Poderia escrever-lhes um livro narrando todas as pequenas estórias que trago comigo sobre encontros casuais, pessoas que vi uma vez, e que me marcaram tanto quanto pessoas que caminham ao meu lado a vida toda, mas a menina do metrô já ilustra bem esse ponto.Para encerrar, queria propôr a vocês que façam o mesmo, olhem ao redor, dêem valor as pequenas coisas e principalmente às grandes pessoas que tiveram pequenas passagens em suas vidas. E pensem também que, como aconteceu comigo e com o meu anjo, talvez nesse exato momento tenha alguem sonhando com vocês, pensando em vós, pessoas que nem mesmo sabemos que existe... pensem nisso...
Esse texto vai dedicado para alguns desses anjos que tiveram pequenas participações na minha vida, e que por obra do destino, mesmo tendo tudo para continuar lá, seguiram caminhos opostos... as que cito aqui eu só vi por um dia, mas volta e meia ainda lembro delas, e isso me faz bem, gostaria que fosse diferente, mas não foi... e hoje são ternas lembranças... nem ao menos sabem que tem alguem lhes dedicando textos...

Para Karin, que me deve um beijo... para Fernanda, que me deve um filme... para Andréia, que me deve um segundo encontro... e para Ela, a menina do metrô, que não me deve nada.... mas para quem, em compensação, eu devo tanto...

Quem cala consente

03:08 / Postado por Figgis / comentários (0)

Porque quem cala é a corrente
Porque quem cala é a corrente

E o que se cala se sente
E se a moeda é corrente,
Então o cara consente
Mas se a gente fala, é a corrente
Porque quem cala consente

Porque a tristeza é decente
Porque a vida é carente
Porque a voz é ausente
Porque quem fala é indigente...

Porque quem cala é a corrente
Porque quem cala é a corrente

E na tristeza da gente
Então o cara é patente
Então a vida é ausente
E quem se cala é patente
E o que se cala consente...
E o que se cala consente...

Porque quem cala é corrente
Porque quem cala consente
Porque quem cala é patente
Porque quem cala... é corrente!