A Menina da Caixa de Sapatos

00:24 / Postado por Figgis /

Ela surgiu no meio da noite paranóica. Paranóia pragmática, psicotóprica e abusada, não sorriu nem disse nada, nem se irritou nem deu risada.A garota da caixa... me disse que vivia numa caixa de sapatos. Não tinha rosto não tinha nada, não tinha vida não tinha nada, não tinha idéia da sensação causada. Empatia, ligação, sem compromisso, com vibração... não tinha nada. Tinha nada... tinha nada, o nada que a menina tinha era o nada que me seguia, a menina do sapato... do cuturno, do vinil e da caixa.Não tinha olhos, não cria em Deus, criava vida e me dizia adeus.... voltara para a caixa.
Todos os dias, o dia todo, dormia em sua caixa, toda a noite, a noite toda, saia e brincava. Brincava alegre sem estar feliz, brincava para afastar a dor do vazio, o mesmo vazio que me seguia... e então a menina da caixa ganhou vida.
Dizia aos risos que chorara, dizia em baixos gritos que não tinha nada, que vivia sozinha em sua caixa.
A menina da caixa dos sapatos não tinha nada que eu não quisesse, não tinha nada que eu queria, não tinha nada e eu queria, nada ter, mas era tarde... a menina do sapato tinha ido até a margem e deu um passo a mais. A mais sisuda, a mais igual, a mais diferente, mas nada mal.
Ela lutava com moinhos de vento, estava na guerra e não era guerreira, lutava com seus demônios usando escudos, e ganhava sem atacar. E então ganhou rosto... a menina do sapato tinha vida tinha rosto... dizia que não tinha nada, mas tinha algo de especial... nada ter, mas era tarde... era tarde e me disse adeus... boa noite, na caixa de sapatos...
A menina era garota... com rosto corpo e vida, e do seu mundo veio a mim, e não consegui não olhar. Garota linda, mas desavisada, garota gata, mas escaldada, garota viva e iluminada.
Desavisaram-lhe de sua beleza, e assim vinha e me falava, que era comum e não tinha nada, e de comum não tinha nada, e comum não era nada, nada ter mas era tarde, mentiu pra mim dizendo que eu era bonito e menti a ela dizendo que não acreditava e me perdi em ambas mentiras...
Gata escaldada, mas era gata, mas se dizia, não tinha nada. Não sei da onde veio ou pra onde ia, além da caixa de sapatos, não se escaldaram-na ou se escaldou-se, mas dizia, não tinha nada... e se eu dizia voltava a caixa, então menti não dizendo nada, e me perdi em amplas mentiras.
Dizia que sua luz vinha da lâmpada... não cria em Deus, não cria em nada, se lhe falava dava risadas. Ria de mim e comigo, e me disse que somos a mesma pessoa. Comi uma bolacha e ela disse que lhe fez mal, ela ficou triste e eu dormi mal...Será que somos a mesma pessoa? Essa noite eu suspirei por ela.... mas ela não tinha nada, e voltei para minha caixa de sapatos...

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