Madrugada Vermelha - Parte I

03:02 / Postado por Figgis /

O Menino Pedro

Em um pedaço de terra como qualquer outro, a cena que se vê não é estranha. Várias casas rústicas construídas em volta de uma praça insalubre, onde dormem os cachorros sem dono daquele lugar miserável. Em frente a praça uma igrejinha bege, institucionalizada, apenas mais uma repartição dos escritórios de Deus.
O sino da igreja badala doze vezes, os ponteiros se encontram e olham para o céu escarlate que dá o tom da sinfonia. Meia-noite.

- Pelo que reza, Pedro?

- Rezo para que o dia chegue logo, rezo para que logo pela manhã caia uma garoa agradável, e peço ao papai do céu que me deixe senti-la por alguns segundos. Que ela toque meu rosto, lave meus cabelos e limpe meus pecados.

A brisa púrpura entra por debaixo da porta principal da igreja, varre o longo tapete ecumênico, desvia para a direita, escorre pelos degraus espiralados e adentra o quarto onde está o menino Pedro e Padre Jonas.
No claustrofóbico quarto mal cabem os dois, apertados pelo guarda-roupa com a imagem da Santa e as roupas sacerdotais. O menino Pedro está ajoelhado, com os cotovelos apoiados na cadeira que está encostada à parede. A janela retangular quase tocando o teto ilumina parcamente os vultos do menino Pedro e Padre Jonas.
O padre, com a batina candidamente branca, recosta a mão no ombro do menino Pedro.

- Quando rezamos pro papai do céu, primeiro, temos que agradecer tudo aquilo que ele nos dá. Você tem que agradece-Lo pelo amor que seu pai e sua mãe tem por você, dar graças por eles serem tementes a Deus e permitirem que você venha aqui receber os ensinamentos de Cristo. E sobretudo, tem que agradecer por ter me encontrado, pois nunca vou te deixar seguir o caminho da perdição. Você entende isso, Pedro?

Pedro consente com a cabeça e se vira, olhando com seus olhos de nada os grandes e bondosos olhos azuis de Padre Jonas.

- E outra coisa, Pedro. Se queremos que o papai do céu atenda a nossas preces, temos que cumprir nossas obrigações e fazer tudo que agrada a Deus com bondade e prazer.

A gentil mão de Padre Jonas acaricia o ombro do menino Pedro, uma lágrima ocre escorre pelos olhos do menino Pedro, o menino Pedro está ajoelhado...

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